MULHER SEPARADA





Plenos anos 2000 e tantos.
Estamos em 2013, mais precisamente.
Já quase metade de mais uma década.
As famílias são outras, a realidade é BEM outra daquela que viviam as nossas mães, as nossas avós.
Nós, mulheres "separadas" vivemos uma realidade a cada dia mais comum.
Na escola das crianças, uma grande parte dos pais são separados.
Nas grandes e pequenas empresas, mulheres separadas ocupam cargos e funções importantes, independente da hierarquia.
Mulheres separadas andam nas ruas das nossas cidades calçando os mesmos sapatos que as "boas mães de família"!

Diferente dos rótulos de "vagabundas", "mulheres "fáceis", "desfrutáveis", que levavam as nossas avós, que porventura ousavam se separar, hoje somos as vilãs da desestruturação da família.

Me separei há dez anos.
Uma década de lutas e de uma história única e motivos só meus(cada mulher tem uma história só sua) que me levaram à decisão.  Sim - a decisão é, na maioria esmagadora, da mulher, pois os homens(não generalizando, por favor!) conseguem manter uma relação sem conteúdo pelo bem do patrimônio, da imagem, da "felicidade" da família.

Foi uma luta árdua.  Muitos contratempos coincidiram com esse período.  Em nenhum momento me arrependi da minha decisão.  Foram anos de terapias de todos os tipos até chegarmos a um acordo.

Sem importar as razões, me separei há 10 anos, e continuei criando os meus três filhos lindos, saudáveis, inteligentes, estudiosos e trabalhadores - quem os conhece sabe que não estou exagerando.
Me separei há 10 anos e com muita dificuldade os mantive emocionalmente por boa parte do tempo, sozinha.
Contei com o pai deles em muitos momentos, com um parceiro que amei e  amo muito, com os avós paternos e principalmente os meus pais, mas a função principal, desculpem, foi minha, sim.
Assim como é de vocês, mulheres que se separam porque percebem que os filhos precisam mais de verdade do que do teatro de uma família "feliz" pela manutenção do patrimônio.

Curiosamente, depois de tantos anos de separação, ainda carrego o fardo de ser uma mulher separada, como se isso fosse mais significativo que eu ser uma mulher trabalhadora, inteligente ou criativa. 
Acho horrível a sensação de ser comparada a outras mulheres que mantiveram o casamento infeliz em nome da preservação da sua imagem social, como se a infelicidade as beatificasse. 
Não quero dizer com isso que TODOS os casamentos são hipócritas.  
Conheço muitos casais felizes há muitos e muitos anos. A felicidade torna essas mulheres admiráveis e essas jamais olham a separação da outra como se fosse uma falha de caráter.

Vivo e sinto descaradamente o preconceito e a discriminação em diversos meios.  
Sou a "sem marido", a "avulsa", a "sozinha", a que tem que se virar.  Homens também nos olham ainda como se fôssemos mais vulneráveis e carentes do que as mulheres que nunca se casaram, por exemplo. 
Como se a experiência de uma relação infeliz, anterior, fosse a certeza de uma conquista fácil e descartável.
O termo "independente" já foi usado "contra" mim como algo pejorativo, negativo.

Não é curioso que, nos tempos em que vivemos ainda tenhamos que lidar com rótulos desse tipo? Não  é horrível que ainda tenhamos que nos submeter a uma sociedade machista e retrógrada, onde a mulher continua sendo desvalorizada como ser inferior?  Pior: endossada pelas próprias mulheres que, por optarem pela manutenção de casamentos infelizes, se consideram no direito de nos julgar e condenar? 
O que as faz melhor do que nós?...Ninguém é melhor do que ninguém - somos nós e as nossas escolhas. Nõs também não somos melhores do que elas.

Levo uma vida dura, não muito regrada, em função do acúmulo de funções, e sei que tenho de minha família, em especial dos meus filhos, o profundo respeito pelo trabalho que venho desenvolvendo nesses anos todos. Neste momento, em especial, me dou conta de que AINDA estamos submetidas a rótulos, a "avaliações", a julgamentos infelizes por "donos e (o pior ) DONAS da verdade" que se consideram melhores do que nós porque mantiveram um casamento infeliz por muitos anos.

Não, senhores, não, muito obrigada.  Prefiro e escolho a verdade.
Com todo o respeito pelas suas escolhas e suas vontades, agradeço muito se puderem respeitar as minhas.

Não sou a única e nem a primeira.  Poderia citar uma lista gigantesca de mulheres dignas e de muito valor que conheço que tiveram a mesma coragem.  Agradeço mais uma vez a vocês que têm o respeito e a consideração pela minha condição.

Trabalho muito, saio, me divirto, tenho MUITOS amigos, amo profundamente a mesma pessoa já há muitos anos, mas amo acima de tudo aos meus filhos e a mim.  

Me orgulho pela coragem de ter tomado a decisão correta na hora exata. Tenho a minha convicção de que um casamento de mentira  não teria na vida deles o mesmo efeito que um exemplo de verdade, escolha, coragem. 

Reafirmo aqui que tenho profundo respeito pelo pai dos meus filhos e meu ex-marido e por toda a família dele, assim como agradeço imensamente à minha família - ascendente e descendente, por todo o apoio.

Só quero respeito.  E eu sempre respeitei e respeitarei as decisões alheias. Simplesmente não consigo entender o "conforto" em que vivem certas pessoas com relações obviamente infelizes, em nome de...de quê, mesmo?

Sempre fui considerada "rebelde" por não me importar com "o que os vizinhos vão pensar".

Independente do meu estado civil, meu caráter permanece intocável - aqueles valores que recebi de berço, esses permanecem, e estão em minha mente, minha alma, e meu DNA.  
Casada, solteira ou separada.  
Em primeiro lugar, para mim, a VERDADE e o amor.

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