O Cheiro da Chuva

Nós, sempre pela metade
Nós, sem mentiras
Nós, sem verdade

Passava-se mais um dia em que as coisas não aconteciam, as respostas não vinham e tudo parecia estacionado, ou no máximo andando em linha reta. Nem curvas, nem subidas.


Quando olhava ao redor tudo tinha cara de bagunça, de vida a pôr em ordem, de inacabado.


Tudo começado e sem terminar.

Tudo ao redor cheirando a pedaços malfeitos de histórias inacabadas.

Tudo malconversado.

Tudo malversado.

A angústia era a única coisa que crescia, bem devagar, como cabe a qualquer angústia que se preze.


Vestia-se mecanicamente.  Tomava banho de olhos fechados.


Os cabelos cresciam desordenadamente, como quisessem.


Escovava os dentes automaticamente e os cremes de beleza venciam na gaveta.  Podia ouvir - um de cada vez avisando que seu prazo de validade expirara.


Sem força, sem alegria, sem motivação, sem viço.  

Nem na pele, nem na alma.

Apenas aceitava com um sofrimento disfarçado de sorriso, cada um dos seus dias.  


E seguia.


Conversar não resolvia mais.

Apenas precisava resolver o que tivesse que ser resolvido.
Dar o primeiro passo.

Ainda se lembrava do cheiro da chuva. Não queria esquecer.



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