"Alicia" e o gato. I seek you!




Só quem viveu uma amizade parecida pode ter a mais remota ideia do que eu quero dizer...
Ainda não existiam as redes sociais como elas são hoje, mas existiam outras formas que as pessoas usavam para se comunicar à distância.
O mais popular, naquela época, era o ICQ. 
As pessoas se conheciam nas salas de bate papo, e depois trocavam ICQ (uma abreviatura para I Seek You). 
Quase como acontece hoje nesses sites de relacionamento - as pessoas se conhecem ali e depois continuam a se conhecer e a se comunicar pelo MSN.
Foi numa dessas salas de bate papo que nasceu a amizade mais inusitada que ela poderia conceber.
Um homem e uma mulher interessantes que queriam apenas ser amigos, REALMENTE.
Já adultos, maduros, com uma bagagem de experiência importante, certos do que queriam, descobriram uma afinidade única, quase incompreensíveis para o mundo.  
Almas irmãs, talvez...
Trocaram, ao longo de anos e anos, as experiências mais importantes de suas vidas.  
Amadureceram, aprenderam um com o outro e com a vida, que o amor tem outras e mais sublimes formas de se manifestar.
Contaram histórias, trocaram verdades, e cresceram.  
Ela lhe mostrava o mundo dos sapatos e maquiagens, das lágrimas fáceis, das dores de ser o que se é, mesmo contra as vontades do mundo.  
Ele lhe ensinava como os homens pensam, cruamente, lhe apontava onde ela estava errando e lhe oferecia o ombro, em troca apenas de outro ombro.  
Entre eles, sempre diziam que ele era "a melhor amiga" dela, e que ela era "o melhor amigo" dele. 
Um vestia, por algumas horas, na madrugada, a realidade do outro.  
Trocavam pontos de vista, dores e alegrias.  
Riam alto e "sozinhos", na madrugada.  
Choravam muitas vezes, mas sempre com a certeza de que nunca estariam sós.  
Sempre teriam um ao outro.  
A segurança de alguém para ouvir.  
A certeza de encontrar, sempre, todas as noites, o necessário colo, apoio, carinho.
TUDO era dividido - as dores, os amores, as alegrias, as histórias de família, as baladas, as aventuras amorosas e sexuais.
Não combinavam em tudo, mas em quase tudo. 
Pareciam-se até fisicamente.
Chamavam-se irmãos.
Apoiavam-se mutuamente.
Encontraram-se fisicamente algumas vezes, sim, trocaram abraços e olharam-se nos olhos, certificando-se de que as energias eram, ao vivo, tão verdadeiras quanto pareciam no ambiente virtual.
Saíam com outras pessoas, cultivavam outras amizades, mas no momento de "derramar a alma", sempre recorriam, um ao outro.
Se saíam, chegavam de madrugada e corriam para o computador para contar as histórias.
Desenvolveram um grau de confiança, um no outro, impossível de descrever.  
Eram tão verdadeiros, entre si, sendo capazes de revelar as mais inconfessáveis verdades, apenas um para o outro.  
Não havia vergonha, nem medo e nem culpa.
Por anos e anos e anos limitaram sua amizade ao ambiente virtual.
Eram as almas que conversavam.  O contato físico acabou sendo desnecessário.
Conheciam-se pelo modo de escrever. 
Tudo o que acontecia, nas suas vidas, eles trocavam.
Passaram por inúmeras dificuldades - separações, dores de amor, problemas familiares, perda de entes queridos - e sempre estiveram ali, um para o outro.
Ela me contou que ele anda meio distante.  
Parece que "as energias superiores" andam promovendo um afastamento das almas irmãs.
Ela sente falta.  Acha que ele também.
Mas, de uma coisa ela tem certeza - não há nada nesse mundo e nem em qualquer outro, se houver, que separe a união dessas almas.

Os amigos sempre se encontram.  Nesta ou em outra dimensão.
Onde há verdade, a amizade se transforma, mas nunca acaba.
Que as suas almas continuem se misturando!


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